Frente 3 de Fevereiro

Zona de Poesia Árida

Zona de Poesia Árida apresenta o conjunto de mais de 55 trabalhos de coletivos de arte e ativismo de São Paulo que, no MAR, constituem o Fundo Criatividade Coletiva/Doação Funarte, formado por meio da 6a edição do Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, iniciativa de grande importância no campo das políticas públicas da cultura deste país.

A coleção evidencia o processo de adensamento curatorial que sublinha a condição do MAR demuseu de processos: o Fundo Criatividade Coletiva é um fundamental desdobramento da presença de diversos coletivos e grupos de São Paulo na exposição inauguralO Abrigo e o Terreno, que debateu o direito à cidade e à habitação, alémdas relações entre público e privado. A produção de artistas, ativistas e integrantes de movimentos sociais é inflexão na história da arte brasileira que demanda ser pensada criticamente. Colecionar, exibir e refletir sobre essa produçãofaz-se necessário para que suas prementes questões – sociais, estéticas, políticas, econômicas – encontrem ressonância,ampliando seu público e o alcance histórico de suas lutas.

Mais adiante, a incorporação desse conjunto à Coleção MAR dá as bases para a discussão em torno dos processos de publicização e institucionalização da arte – e, de modo geral, das práticas de criação e resistência da sociedade –, debate essencial que exige das instituições uma renovada capacidade de autocrítica. Assim, a pauta da crítica institucional dá mais um importante passo no museu, posta que está desde O Abrigo e o Terreno e avançando por entre exposições como Turvações Estratigráficas – Yuri FirmezaEu Como Você – Grupo EmpreZaou o recente Museu do Homem do Nordeste.

Se, como demonstra Zona de Poesia Árida, os anos 2000 instauraram novas práticas, entrecruzando estratégias da arte e do ativismo de modo especialmente intenso, é, enfim, com o desejo de reverberar essa potência de questionamento e invenção que se consolida o Fundo Criatividade Coletiva. Afinal, o Museu de Arte do Rio, como instituição que surge no século XXI –, encarando os desafios colocados pelo atual contexto sociopolítico da cultura, compreende que é parte de suas responsabilidades a contínua ativação desse campo de investigações.

Museu de Arte do Rio – MAR

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Zona de Poesia Árida

Existe nos trabalhos de Zona de Poesia Árida a capacidade de espalhamento que é inerente ao campo da produção cultural coletiva. Há obras que, mesmo tendo sido produzidas no início do século, são cada vez mais atuais e se afirmam como referência nos campos da arte e do ativismo, a exemplo da sequência de bandeiras da Frente 3 de Fevereiro e seu questionamento sobre o racismo no futebol; ou ainda o Monumento à catraca invisível, do coletivo Contrafilé, em que o símbolo catraca – e sua tácita “descatracalização” – tem sido atualizado como um marco de luta.

São obras de uma geração que viveu e criou junto uma trajetória, um repertório, um conjunto singular de ações numa das maiores metrópoles do mundo. Uma geração que esgarçou o espaço institucional até a vida pública, cruzando e sendo atravessada por movimentos sociais diversos.

Reúnem-se não apenas os trabalhos mais relevantes de parte dessa geração de coletivos artísticos paulistanos do início do século XXI, constrói-se também uma Zona de Poesia Árida, que tem como topografia a cidade e suas fendas.

Daniel Lima e Tulio Tavares, curadores

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