[IN]VISIBILIDADES URBANAS, Lilian Amaral

Lilian Amaral

]IN]VISIBILIDADES URBANAS.

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Intervenção urbana | Lambe-Lambe. Pandemia naBorda, 2020

Imaginários Distópicos

[IN]VISIBILIDADES URBANAS.  VideoZine. Intervenção urbana | Lambe-Lambe. Lilian Amaral & Ivan David.  São Paulo, Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Oficina Cultural Oswald de Andrade e Galeria Choque Cultural. Integrante da Mostra Tipografia: Substantivo Feminino. 14ª. Bienal Internacional de Curitiba Novembro, 2019. Imagem Ivan David. Acervo Paisagens da Memória. Acessar em https://youtu.be/wG1cG25cUMY

[IN] VISIBILIDADES URBANAS – REGIMES DE RESISTÊNCIA

Estamos vivendo um momento que nos força a pensar sobre nossas peles, contatos, camadas. Forçadxs ao isolamento porque extremamente conectadxs, longe, porque muito próximxs. Casa, cidade, mundo, não são tanto uma questão de escala, são camadas próximas como abraços. CorpoCasaCidade pensa a vulnerabilidade e o cuidado de si e do mundo, imagina corpo como cidade, cidade como pele, pele como mundo.

Transitar por entre camadas sonorovisuais nos faz penetrar e atritar as fronteiras entre público e privado, memória e esquecimento, entre visibilidade e invisibilidade. Mesclar distintos tempos e espaços: das paisagens sonoras em iídiche ao comércio ambulante do Bom Retiro-Luz, de depoimentos sobre as condições de vida dos habitantes locais, artistas, moradores de rua, sem-teto, aos subterrâneos que escondem os caminhos das ocupações das margens e dos fluxos das águas que desembocam no igualmente invisível rio Tamanduateí.

Imagens de sobrevoo de deslocamentos urbanos nos aproximam das perspectivas de câmeras de vigilância,  quando somos mutuamente surpreendidos com a presença e o aceno de operários no restauro do alto das torres do Museu da Língua Portuguesa em contato com a câmera deslocada no ar.

Deslocamentos sensoriais revelam os vazios e silêncios de um corpo-cidade fraturado. Percursos da memória e seus regimes de invisibilidade, em camadas, são como escrituras  urbanas diariamente reelaboradas. O plano da rua é marcado pela vulnerabilidade e invisibilidade de moradores de rua e usuários de crack, as mais variadas formas de ameaça e violência incidem no território em que sujeitos-objetos são descartados como dejetos em meio à varrição contínua da rua, como reincidente  mecanismo de apagamento e “limpeza social”.  

Uma complexa gramática visual anuncia e tatua na pele da cidade a resistência e as falências das memórias evanescentes diante do temor, das incertezas, do tempo e da opressão. As camadas justapostas são arquiteturas de significação implicadas nas políticas do esquecimento e nas poéticas da [in]visibilidade como formas de mutação engendradas na cidade.

A arte, neste contexto, emerge como dispositivo minemônico com a perspectiva de propor a restituição simbólica, mesmo que efêmera, das vidas precarizadas. Restituir as memórias desses sujeitos hoje, quando o extermínio e suas múltiplas fisionomias são elementos banalizados e transformados em parte de nossa necropolítica, configu-se como uma tentativa de resistência cotidiana. “A arte do ‘desesquecimento’ (…) reafirma a capacidade empática e crítica do campo estético, deixando claro que a arte é parte essencial da luta política hoje” (SELLIGMANN-SILVA, 2019).

SELLIGMANN-SILVA. [IN]VISÌVEIS. Polacas. Memória e Resistência. Folder. Secretaria de Cultura e Economia Criativa. OCOA, 2019.

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